Nos últimos 40 anos, muito se avançou nos procedimentos de amostragem de água subterrânea para a caracterização e remediação de áreas contaminadas por produtos orgânicos, principalmente de combustíveis fosseis, como a gasolina e o óleo diesel. Diversas metodologias foram desenvolvidas para caracterizar esses compostos, a partir do uso de técnicas de construção de poços de monitoramento e amostragem.
Quando o objetivo é a caracterização por compostos orgânicos, os poços de monitoramento devem ter filtros que alcancem a zona não saturada para identificar a presença da fase livre (contaminantes mais leves que a água acima do nível d’água de um aquífero livre) e a detecção de gases orgânicos. No entanto, poços com essas características geralmente apresentam problemas na etapa de limpeza e desenvolvimento, produzindo, frequentemente, sólidos em suspensão durante toda a sua vida.
Com o advento de técnicas de amostragem com baixa vazão (low flow) tornou-se possível reduzir a presença de sólidos em suspensão no ato da amostragem, com resultados consideravelmente melhores, se comparado com o uso de técnicas convencionais (p. ex. bayler). Contudo, mesmo com critérios de estabilização dos parâmetros físico-químicos (pH, Eh, condutividade elétrica e temperatura), tais técnicas não impedem que frações de sólidos em suspensão, principalmente argilas e diminutos fragmentos de minerais presentes nas rochas venham a ser amostrados.
Tal fato torna-se mais crítico quando se aplicam procedimentos em que as amostras são tomadas sem filtração. Desta forma, ao aplicar o preservante (ácido nítrico) ocorre a “abertura da amostra”, ou seja, a solubilização de elementos sólidos, como metais traço, especialmente argilominerais, uma vez que compõem as frações de menor granulometria. Assim, o resultado das análises apresenta concentrações mais elevadas de metais, os quais não necessariamente refletem a composição real da água subterrânea, resultando, por vezes em conclusões errôneas sobre processos de contaminação ou de alteração na qualidade da água subterrânea.
Por tudo isso, para evitar problemas de representatividade nas amostras, é imprescindível considerar o objetivo da necessidade de caracterização – um poço para caracterizar um processo de contaminação por compostos orgânicos poderá ter características distintas de um poço para caracterização de concentrações de metais. técnicas de construção e desenvolvimento dos poços de monitoramento.
Concluindo, podemos listar algumas boas práticas adotadas pela MDGEO para garantir a representatividade das amostras de águas subterrâneas:
- Projeto de poços adequados ao objetivo do monitoramento;
- Emprego de materiais apropriados, com emprego de tubos de revestimento e maciço de pré-filtro adequados;
- Acompanhamento técnico das etapas de perfuração, completação, desenvolvimento e limpeza dos poços de monitoramento, de forma a garantir que sigam as orientações do projeto;
- Amostragem com técnicas adequadas, preferencialmente com o uso de métodos de baixa vazão (low flow);
- Avaliação crítica de resultados, com realização de atividades de limpeza e desenvolvimento dos poços de monitoramento sempre que forem registrados resultados anômalos.